quinta-feira, 19 de novembro de 2009

As mudanças na liderança feminina



Estamos acostumados com as disparidades de salários ou posições administrativas entre homens e mulheres. Em alguns setores, como o de serviços financeiros, informática, mídia e publicidade, onde pouca informação é divulgada sobre os padrões e limites da base salarial, há uma diferença de remuneração de cerca de US$ 10.000 entre homens e mulheres que possuem MBA.


Um dos motivos é a percepção pelas mulheres de que correm um "risco social" se negociarem um salário mais alto. Elas acreditam que se pedirem essa remuneração mais elevada, vão parecer menos amigáveis e bondosas, excessivamente exigentes e ligeiramente egoístas, características contrárias ao que supostamente caberia a elas como mulheres. Portanto, não é nenhuma surpresa que, durante algumas experiências em negociação, os participantes aloquem mais dinheiro para os homens do que para as mulheres, pois assumem que elas se satisfariam com menos.

Agora, as mulheres estão dispostas a se contentar com menos?


Contudo, a recessão criou uma nova disparidade, desta vez no sentido oposto. Segundo as últimas estatísticas nos EUA, 82% das demissões têm sido masculinas. Alguns setores tradicionalmente femininos, como saúde ou educação, são menos sensíveis às turbulências econômicas do que áreas tipicamente masculinas, como manufatura ou construção. Assim, o desemprego masculino em junho de 2009 ficou em 10,6%, enquanto que entre as mulheres foi de 8,3%, tornando-se a maior diferença nesse quesito entre os sexos nos EUA desde 1948, quando começaram os registros.

Então foi criado o rótulo da grande “he-cession”, (trocadilho da palavra recessão em inglês, ao escrevê-la com a sílaba ‘he’ que significa ‘ele’, pronome masculino) e há especulações de que poderá ser a ‘grande reviravolta’ para as mulheres. O jornalista Reihan Salam se arriscou a prever que o principal conflito mundial do século não será de ideologias, geopolítica, raça ou etnia, mas sim de gênero.

A recessão poderá mudar não somente os sistemas de regulamentações, mas também os papéis exercidos pelos sexos? Há evidências de que a crise financeira já provocou algumas mudanças.

Há mais homens fazendo enfermagem nos EUA. Na Islândia e Lituânia, dois países fortemente atingidos pela crise, mulheres foram eleitas Primeiras-Ministras (Halla Tomasdottir e Dalia Grybauskaite, respectivamente). Há publicações na imprensa dizendo que enquanto a auto-estima masculina se reduz, a das mulheres tem aumentado, uma vez que algumas se tornaram chefes de família. As empresas estão finalmente levando a diversidade de gênero a sério, e em novembro de 2008 a Siemens nomeou Jill Lee ao cargo de Diretora de Diversidade.

Porém, a recessão logo acabará, e se as mulheres não se dedicarem bastante para desenvolverem suas habilidades de liderança, sua escalada ao topo corporativo será tão íngreme quanto era antes da crise. Elas precisam vencer alguns desafios e assuntos específicos, mas eu gostaria de focar particularmente na autenticidade. As mulheres têm algum problema com esse tema?

Há uma percepção errada entre as mulheres de que precisam ser como os homens para serem bem sucedidas. Muitas vezes elas tentam imitar um modelo masculino e o resultado disso é um enfraquecimento de seu estilo feminino (ex: sorriem menos), suprimindo sua qualidade inerente de serem "agradáveis e acolhedoras" ou até baixando o tom de voz. É fato que comportamentos inerentes masculinos, como a projeção da autoconfiança, ambição, poder ou o ‘estar’ no controle, estão associadas a uma liderança eficaz. Mas fazer apenas o que os homens fazem não é suficiente. Quando as mulheres são percebidas como ‘masculinas’, violam o estereótipo de seu gênero, que se define por valores comunais, como simpatia, carinho e gentileza. O resultado é uma percepção das pessoas de que falta autenticidade. Curiosamente, mulheres ‘cheias de si’ são mais suscetíveis a sofrerem assédio sexual como uma forma de castigo por serem "falsas".


Para ser bem sucedida, a mulher precisa ser encarada não apenas como ‘masculina’(com suas características inerentes), mas também como comunais. Consideremos Indra Nooyi, presidente do conselho e CEO da PepsiCo, por exemplo. Por um lado, ela é muito ‘masculina’ e projeta confiança e controle nas negociações, e, por outro lado, ela é muito atenciosa, acolhedora e uma chefe maternal, que se sente feliz em oferecer conselhos aos funcionários sobre como se vestir corretamente. Negligenciar o aspecto comunal do comportamento pode levar à uma percepção das líderes femininos de serem não-autênticas, resultando em conseqüências negativas.

As crises podem oferecer oportunidades. Esta é uma oportunidade que as mulheres não podem desperdiçar. Reexaminar a autenticidade é um bom ponto de partida.

Ginka Toegel é professora de Organizational Behavior and Leadership no IMD. Ela é diretora do programa Strategic Leadership for Women, que ajuda os participantes a encontrarem seu estilo único de liderança, mesclando valores ‘masculinos’ e comunais.
 
Fonte:Ginka Toegel - www.administradores.com.br
 
Hasta la vista, Baby!!!

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