Em tempos de crise econômica mundial, empresas veem-se obrigadas a cortar gastos por meio da demissão de funcionários. Tais medidas podem, entretanto, gerar efeitos colaterais indesejados. Em especial no Brasil, país com altos índices de desemprego, as dispensas podem proporcionar um clima de tensão entre colaboradores remanescentes. Como o medo de perder o emprego afeta a produtividade de um profissional?
Para Gilberto Guimarães, diretor geral da multinacional francesa Groupe BPI no Brasil, empresa que atua na área de Recursos Humanos, esse ambiente pode prejudicar o trabalho em equipe dos funcionários. O cenário de demissões, argumenta ele, pode fazer com que um profissional não queira ajudar o colega por medo de perder o emprego. “Fica muito na base do ‘ou ele, ou eu’”, explica. “O medo provoca a perda do sentido do trabalho coletivo e esse é o primeiro problema.”O segundo, de acordo com o executivo, é a perda do olhar crítico. “Se estiver com medo, um profissional não vai discutir com o chefe por algo que acredite estar certo, não vai dizer que o superior está errado”, prossegue Guimarães. “E o fim do espírito crítico é catastrófico.”
Engana-se, no entanto, quem crê que o medo de demissão é um fenômeno causado somente pela atual crise financeira global. Em períodos como este, o temor apenas se agrava. Pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR) realizada em 2003 já havia classificado o medo da demissão como a segunda maior causa de estresse nos brasileiros, perdendo apenas para a violência.O administrador de empresas Augusto Campos afirma que, além do estresse, o medo de demissão pode gerar omissão por parte dos colaboradores. Para ele, quando o indivíduo acha que os superiores estão prestes a demitir mais funcionários, tende a fugir de decisões. “Ele evita correr riscos e, pela insegurança causada, torna-se menos eficaz e produtivo, o que pode exatamente transformá-lo em um candidato ao corte”, afirma.
É possível, no entanto, que alguém se sinta mais motivado para trabalhar e, assim, manter o emprego? Campos diz que em alguns casos, sim, mas o comum é que a maioria sinta-se afoita ou cautelosa em excesso. “Todos ficam tensos, e a energia que poderia ser gasta na busca pelos interesses corporativos acaba sendo desperdiçada com os boatos da rádio-corredor e na tentativa furada de prever o futuro”, critica.
Transparência e objetividade
Para evitar que o clima de demissão surja e prejudique a produtividade dos colaboradores, os especialistas fazem recomendações distintas. A diretora de Recursos Humanos da Câmara Americana de Comércio, Márcia Almström, sugere que os cortes sejam executados com clareza.Psicóloga organizacional por formação, ela relaciona a falta de transparência da empresa à insegurança dos funcionários. “É uma relação de troca entre os dois. Quando não existe confiança, não existe engajamento em relação aos objetivos e metas”, explica. Por isso, segundo Márcia, a empresa deve ser transparente e mostrar que demitiu porque não tinha alternativa.A fórmula sugerida pela executiva está amparada em três pilares: ética, transparência e comunicação. Caso as corporações apliquem esses conceitos, garante ela, as incertezas geradas pelas demissões irão diminuir e o impacto da crise será menor.Gilberto Guimarães, diretor da Groupe BPI no Brasil, por sua vez, sugere rapidez e objetividade nas demissões. Para ele, não há nada pior que uma companhia que prolongue o processo por muito tempo. “Rabo de cachorro se corta de uma vez só”, brinca. “Se cortar aos poucos, você não consegue segurá-lo e ele foge.”
Fonte:Rodrigo Capelo/MBPress
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