Vira e mexe aparece um escândalo descoberto com gravações telefônicas ou filmagens.
Entretanto, a moçada não aprende e continua falando como se vivesse fora das vistas, ou melhor, para a nossa conversa, dos ouvidos dos bisbilhoteiros. História sobre esse assunto é que não falta. Filmagem de pagamento de propina nos Correios, advogado sendo flagrado pelas câmeras e microfones ao combinar a estratégia de defesa com sua cliente, gravação de assessor de alto escalão negociando sua parte em saguão de aeroporto etc.
Você se lembra bem do que ocorreu com o ex-ministro Rubens Ricupero. Ele estava numa emissora de televisão conversando de maneira descontraída com o jornalista Carlos Monforte, enquanto aguardava o momento para ser entrevistado.Não observaram, entretanto, que já estavam com o microfone na lapela e toda a conversa foi transmitida por uma antena parabólica. Não deu outra, o ministro dançou. E não conseguiu se segurar no cargo mesmo sendo um homem íntegro, experiente e muito bem-preparado.
Nem sempre nossas opiniões pessoais, que expressamos apenas nas situações mais íntimas, como em casa ou nas pequenas rodas de amigos, podem ser discutidas livremente na vida pública ou nos contatos profissionais. Foi o que ocorreu com o ex-ministro. Estava num momento de descontração, muito à vontade com o jornalista, comportou-se como se estivesse em casa e sem maldade, despoliciado, fez algumas revelações indiscretas e contou algumas vantagens.
Quando você estiver em emissoras de rádio ou de televisão, em auditórios ou salas de evento evite fazer comentários que de alguma maneira poderiam prejudicá-lo ou provocar mal-entendidos. Esses locais estão empestados de microfones com todas as sensibilidades possíveis, e o risco de estar sendo ouvido por alguém nunca pode ser descartado.
O perigo do avião.
O avião é muito perigoso, mas não como meio de transporte, pois dizem os especialistas que em matéria de segurança só perde para o elevador. Como você já deve estar imaginando, estou me referindo ao perigo que o avião representa para conversas que deveriam ser sigilosas. Como viajo muito de avião, já ouvi de tudo de pessoas que estavam no banco da frente, de trás, do lado e até de algumas que em viagens mais longas ficam de pé para dar uma esticada nas pernas. Ouvi relatos inteiros sobre estratégia de lançamento de produtos, compra e venda de empresas, fusões e, como não poderia deixar de ser, de confusões matrimoniais.
Há poucos dias comentei esse fato com o diretor de uma grande empresa de telecomunicação do norte do país, que fazia um treinamento individual comigo para aperfeiçoar sua comunicação. Ele me disse que mudou toda uma campanha publicitária que estava pronta para ser lançada porque durante um vôo de São Paulo para Belém ouviu com detalhes a conversa de um concorrente que estava sentado bem à sua frente.
Por mais protegido e isolado que você possa se sentir num avião ou num ônibus, mesmo que o passageiro do lado esteja com os olhos fechados e pinta de quem está no terceiro sono, não fale o que ele não poderia ouvir, e se falar acerte o volume para que ele não ouça. Aproveitando o fato de ter incluído o ônibus no assunto, presenciei um fato que mostra que a inconveniência da conversa pode continuar até fora do avião. Num dia de grande movimento no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, depois de descermos de um avião que nos trouxera de Brasília, ficamos um bom tempo dentro do ônibus que nos levaria até a sala de desembarque. Na parte de trás do ônibus, estava um grupo de executivos de uma instituição financeira conversando calorosamente. Em alguns minutos foi possível saber toda a história da empresa.Revelaram o nome do vice-presidente, a quantidade de créditos mal-sucedidos que aprovara na sua gestão, o volume do prejuízo, enfim, todas as informações que só poderiam constar de um relatório confidencial dos auditores.
De leve no celular.
Pelo fato de a pessoa falar pelo celular sem que o seu interlocutor possa ser visto e ouvido pelos outros, os cuidados com o sigilo da conversa em determinadas circunstâncias diminuem muito. Já que falamos em avião, o aeroporto é um local onde as pessoas por precisarem quase sempre esperar muito tempo aproveitam para pôr seus contatos e compromissos em ordem. É comum observar executivos com agendas abertas ligando para várias pessoas e tratando dos mais diferentes assuntos. Alguns se fecham no seu mundo e se esquecem de que estão falando pelo telefone em público. Sem censura vão desfiando confidências que fazem a alegria dos passageiros que estão ao seu lado, antenados em tudo que se passa ao redor. Estou me referindo aos aeroportos, mas pode ocorrer o mesmo nas rodoviárias. Portanto, tenha muito cuidado com o uso de telefone celular em locais públicos e fique atento para não conversar sobre assuntos delicados, que deveriam ser guardados em segredo, quando puder ser ouvido por aqueles que estão perto de você. Falando em telefone e em sigilo de conversa, nunca confie que ao falar pelo telefone, seja ele celular ou fixo, esteja tendo a privacidade que precisa. A cada dia surgem notícias de telefones que foram grampeados e de pessoas que tiveram sua conversa divulgada pelos meios de comunicação.
Quando tiver de tratar de um assunto muito importante, que não possa ser ouvido por ninguém, prefira falar pessoalmente, e, se não for possível, por causa da distância ou da urgência, troque de aparelho e sugira que o seu interlocutor faça o mesmo. Mas, se posso dar um bom conselho, evite sempre tratar de qualquer assunto mais delicado pelo telefone, pois além do perigo do grampo há ainda o risco das ligações cruzadas, que também são muito comuns.
Cuide-se em toda parte. Não vamos nos transformar em pessoas paranóicas, imaginando que em todo lugar há gente querendo ouvir nossa conversa, mas não podemos facilitar e sermos negligentes diante de situações que poderiam ser evitadas. Fique atento nos elevadores, corredores da empresa, saguões de hotel, aeroportos, enfim, em todos os lugares onde outras pessoas possam estar ouvindo o que falamos.
E, para encerrar, uma anedota relacionada a esse tema. Não é nova, mas é boa: um homem estava indo para casa quando sentiu uma forte dor de barriga. Como estava perto de um shopping, entrou para usar o banheiro. Ao verificar que o primeiro sanitário estava ocupado, dirigiu-se imediatamente para o seguinte que estava livre. Assim que se sentou, ficou intrigado ao ouvir uma pergunta da pessoa que estava ao lado:
- E aí? Tudo bem?
Julgou que seria melhor ficar calado e não responder, mas para evitar confusão deu uma rápida resposta:
- Legal... Vou indo.
Em seguida a mesma pessoa voltou a perguntar:
- E o que você anda fazendo de importante?
Embora achasse esquisito o fato de responder a perguntas de um estranho que nem estava vendo e num banheiro público, ainda com o firme propósito de não criar encrenca, respondeu:
- Conforme você percebeu, agora estou aqui no banheiro. E saindo daqui vou para casa descansar.
E quase caiu duro quando o vizinho resmungou:
- Acho melhor ligar depois. Apareceu um babaca aqui ao lado que responde sempre que faço uma pergunta a você.
Entretanto, a moçada não aprende e continua falando como se vivesse fora das vistas, ou melhor, para a nossa conversa, dos ouvidos dos bisbilhoteiros. História sobre esse assunto é que não falta. Filmagem de pagamento de propina nos Correios, advogado sendo flagrado pelas câmeras e microfones ao combinar a estratégia de defesa com sua cliente, gravação de assessor de alto escalão negociando sua parte em saguão de aeroporto etc.
Você se lembra bem do que ocorreu com o ex-ministro Rubens Ricupero. Ele estava numa emissora de televisão conversando de maneira descontraída com o jornalista Carlos Monforte, enquanto aguardava o momento para ser entrevistado.Não observaram, entretanto, que já estavam com o microfone na lapela e toda a conversa foi transmitida por uma antena parabólica. Não deu outra, o ministro dançou. E não conseguiu se segurar no cargo mesmo sendo um homem íntegro, experiente e muito bem-preparado.
Nem sempre nossas opiniões pessoais, que expressamos apenas nas situações mais íntimas, como em casa ou nas pequenas rodas de amigos, podem ser discutidas livremente na vida pública ou nos contatos profissionais. Foi o que ocorreu com o ex-ministro. Estava num momento de descontração, muito à vontade com o jornalista, comportou-se como se estivesse em casa e sem maldade, despoliciado, fez algumas revelações indiscretas e contou algumas vantagens.
Quando você estiver em emissoras de rádio ou de televisão, em auditórios ou salas de evento evite fazer comentários que de alguma maneira poderiam prejudicá-lo ou provocar mal-entendidos. Esses locais estão empestados de microfones com todas as sensibilidades possíveis, e o risco de estar sendo ouvido por alguém nunca pode ser descartado.
O perigo do avião.
O avião é muito perigoso, mas não como meio de transporte, pois dizem os especialistas que em matéria de segurança só perde para o elevador. Como você já deve estar imaginando, estou me referindo ao perigo que o avião representa para conversas que deveriam ser sigilosas. Como viajo muito de avião, já ouvi de tudo de pessoas que estavam no banco da frente, de trás, do lado e até de algumas que em viagens mais longas ficam de pé para dar uma esticada nas pernas. Ouvi relatos inteiros sobre estratégia de lançamento de produtos, compra e venda de empresas, fusões e, como não poderia deixar de ser, de confusões matrimoniais.
Há poucos dias comentei esse fato com o diretor de uma grande empresa de telecomunicação do norte do país, que fazia um treinamento individual comigo para aperfeiçoar sua comunicação. Ele me disse que mudou toda uma campanha publicitária que estava pronta para ser lançada porque durante um vôo de São Paulo para Belém ouviu com detalhes a conversa de um concorrente que estava sentado bem à sua frente.
Por mais protegido e isolado que você possa se sentir num avião ou num ônibus, mesmo que o passageiro do lado esteja com os olhos fechados e pinta de quem está no terceiro sono, não fale o que ele não poderia ouvir, e se falar acerte o volume para que ele não ouça. Aproveitando o fato de ter incluído o ônibus no assunto, presenciei um fato que mostra que a inconveniência da conversa pode continuar até fora do avião. Num dia de grande movimento no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, depois de descermos de um avião que nos trouxera de Brasília, ficamos um bom tempo dentro do ônibus que nos levaria até a sala de desembarque. Na parte de trás do ônibus, estava um grupo de executivos de uma instituição financeira conversando calorosamente. Em alguns minutos foi possível saber toda a história da empresa.Revelaram o nome do vice-presidente, a quantidade de créditos mal-sucedidos que aprovara na sua gestão, o volume do prejuízo, enfim, todas as informações que só poderiam constar de um relatório confidencial dos auditores.
De leve no celular.
Pelo fato de a pessoa falar pelo celular sem que o seu interlocutor possa ser visto e ouvido pelos outros, os cuidados com o sigilo da conversa em determinadas circunstâncias diminuem muito. Já que falamos em avião, o aeroporto é um local onde as pessoas por precisarem quase sempre esperar muito tempo aproveitam para pôr seus contatos e compromissos em ordem. É comum observar executivos com agendas abertas ligando para várias pessoas e tratando dos mais diferentes assuntos. Alguns se fecham no seu mundo e se esquecem de que estão falando pelo telefone em público. Sem censura vão desfiando confidências que fazem a alegria dos passageiros que estão ao seu lado, antenados em tudo que se passa ao redor. Estou me referindo aos aeroportos, mas pode ocorrer o mesmo nas rodoviárias. Portanto, tenha muito cuidado com o uso de telefone celular em locais públicos e fique atento para não conversar sobre assuntos delicados, que deveriam ser guardados em segredo, quando puder ser ouvido por aqueles que estão perto de você. Falando em telefone e em sigilo de conversa, nunca confie que ao falar pelo telefone, seja ele celular ou fixo, esteja tendo a privacidade que precisa. A cada dia surgem notícias de telefones que foram grampeados e de pessoas que tiveram sua conversa divulgada pelos meios de comunicação.
Quando tiver de tratar de um assunto muito importante, que não possa ser ouvido por ninguém, prefira falar pessoalmente, e, se não for possível, por causa da distância ou da urgência, troque de aparelho e sugira que o seu interlocutor faça o mesmo. Mas, se posso dar um bom conselho, evite sempre tratar de qualquer assunto mais delicado pelo telefone, pois além do perigo do grampo há ainda o risco das ligações cruzadas, que também são muito comuns.
Cuide-se em toda parte. Não vamos nos transformar em pessoas paranóicas, imaginando que em todo lugar há gente querendo ouvir nossa conversa, mas não podemos facilitar e sermos negligentes diante de situações que poderiam ser evitadas. Fique atento nos elevadores, corredores da empresa, saguões de hotel, aeroportos, enfim, em todos os lugares onde outras pessoas possam estar ouvindo o que falamos.
E, para encerrar, uma anedota relacionada a esse tema. Não é nova, mas é boa: um homem estava indo para casa quando sentiu uma forte dor de barriga. Como estava perto de um shopping, entrou para usar o banheiro. Ao verificar que o primeiro sanitário estava ocupado, dirigiu-se imediatamente para o seguinte que estava livre. Assim que se sentou, ficou intrigado ao ouvir uma pergunta da pessoa que estava ao lado:
- E aí? Tudo bem?
Julgou que seria melhor ficar calado e não responder, mas para evitar confusão deu uma rápida resposta:
- Legal... Vou indo.
Em seguida a mesma pessoa voltou a perguntar:
- E o que você anda fazendo de importante?
Embora achasse esquisito o fato de responder a perguntas de um estranho que nem estava vendo e num banheiro público, ainda com o firme propósito de não criar encrenca, respondeu:
- Conforme você percebeu, agora estou aqui no banheiro. E saindo daqui vou para casa descansar.
E quase caiu duro quando o vizinho resmungou:
- Acho melhor ligar depois. Apareceu um babaca aqui ao lado que responde sempre que faço uma pergunta a você.
Ninguém mais falou nada.
Por Reinaldo Polito
Colunista do UOL
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