quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Plano Real: 15 anos

Em 1º de julho deste ano, o Real completou 15 anos. Prós e contras fizeram parte desta história. Uma questão que é fato foi a quebra da inflação inercial crescente, que prejudicou a economia brasileira ao longo da segunda metade dos anos 80 e primeira metade dos anos 90. Lembro-me como se fosse hoje, quando o Real foi implementado, em 1º de julho de 1994. Era uma bela manhã de sol e eu, em companhia de um amigo (Arnaldo) que também cursava a graduação em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Alagoas, dirigimo-nos a uma agência bancária no próprio Campus da Universidade com alguns Cruzeiros Reais (CR$), moeda da época, para trocarmos pela nova moeda, o Real.
Cada CR$ 2.750,00 foi trocado por R$ 1,00. Essa cotação começou a ser definida em março daquele ano, quando os preços na economia passaram a ser cotados em URV (Unidade Real de Valor), que equivaleria a US$ 1,00. Com isso, em 1º de julho, o a cotação de R$ 1,00 era exatamente US$ 1,00. A URV visou alinhar os preços da economia e preparar a entrada do Real. Com isso, diminuiria o risco de um desalinhamento de preços que contribuiu, entre outras causas, para o fracasso do Plano Cruzado, em 1986. A grande conquista do Plano Real foi quebrar com a inércia inflacionária crescente, ou seja, os agentes econômicos reajustavam seus preços baseados na inflação passada acrescida de algum ágio. Isso provocava um espiral crescente nos preços. Muitos planos anteriores, com congelamentos, quebravam momentaneamente esse ciclo. Mas devido às suas peculiaridades, tais planos obtiveram resultados efêmeros nos que diz respeito ao controle da inflação (Planos Cruzado, Bresser, Verão, Collor etc.). O medo de um novo congelamento fez com que os empresários remarcassem de modo crescente os preços nos meses que antecederam a implementação do Real. Em junho de 1994, a inflação mensal chegou a 50%, o que equivale a 12.874,63% ao ano. E para relembrar um susto maior ainda, em fevereiro de 1990, quando o governo Sarney saíra e passara o cargo para Collor, a inflação mensal beirou 83%, o que equivale a 140.962,99% ao ano. Inimaginável para os mais jovens, que nunca souberam o que era conviver com remarcações de preços diárias. Lembro-me que minha falecida mãe Gilda recebia o salário e naquele mesmo dia íamos ao supermercado para fazermos a feira do mês, pois no dia seguinte os preços já estavam maiores. Chegou a um ponto em que de manhã era um preço e a tarde já era outro maior. As remarcações aconteciam mais de uma vez ao dia. Dá para imaginar uma situação dessa? Como eu sempre digo, inflação é coisa demoníaca e precisava ser exorcizada. Como uma empresa poderia fazer um planejamento? Como uma família administrava o orçamento doméstico? Difícil responder. As classes mais pobres eram as que mais sofriam (como sempre!), pois possuem uma maior propensão a consumir da sua renda (gastam maior parte da sua renda em consumo). E para piorar ainda mais a situação, tais classes não tinham muitas facilidades dos mecanismos de correção monetária que protegiam parcialmente o dinheiro das classes médias e altas nas aplicações de curtíssimo prazo.Só por essa situação, podem-se perceber os benefícios do Real. Entretanto, ao longo desses 15 anos, a economia não viveu em um “mar de flores”. O primeiro mandato de FHC, 1995/98, e o governo Lula (até a eclosão da atual crise) foram amparados pela âncora cambial (controle da inflação com câmbio apreciado). Já o segundo mandato de FHC 1999/2002 teve o suporte da âncora monetária (controle da inflação com taxas de juros altas), que somente combate inflação de demanda. Juros altos têm um efeito colateral perverso que é o aumento do desemprego e alimenta a inflação de custos.
Uma das maiores conquistas do Plano Real foi o controle da inflação. As âncoras cambial e monetária foram os principais instrumentos utilizados para este fim. O primeiro mandato de FHC teve o auxílio da âncora cambial para controlar os preços na economia. Esta consiste na apreciação da taxa de câmbio de modo a tornar os produtos importados mais baratos. Em 1º de julho de 1994, quando da implantação do Real, U$$ 1 = R$ 1, entretanto, em novembro daquele mesmo ano, a taxa de câmbio chegou a seguinte cotação: U$$ 1 = R$ 0,83. Um dos fatores responsáveis por essa apreciação foram as elevadas taxas de juros já praticadas na economia brasileira à época que contribuíram para ampliar o ingresso de capital externo especulativo em busca de remunerações elevadas. Aliado a essa situação, Ciro Gomes, Ministro da Fazenda na ocasião, ainda reduziu consideravelmente as alíquotas de produtos importados. Com essa dupla força, o ingresso de importados aumentou na economia brasileira e contribuiu para aumentar a concorrência com os produtos nacionais. Além disso, as safras agrícolas recordes também contribuíram para a baixa dos preços dos alimentos: foi a chamada âncora verde. A elevada apreciação cambial a que chegou o Real imineciava uma breve depreciação. Esta ocorreu em 13 de janeiro de 1999, poucos dias após a posse de FHC em seu segundo mandato. A taxa de câmbio passou de U$$ 1=R$ 1,54 para U$$ 1=R$ 2,14 e o governo abandonou a âncora cambial e passou a adotar a âncora monetária como principal instrumento para controlar a inflação, ou seja, fortaleceu a prática de juros altos para desaquecer a demanda e com isso diminuir a pressão nos preços. Vale ressaltar que juros altos controlam a inflação se esta for de demanda, mas por outro lado, pode alimentar a inflação de custos. Vale lembrar também que juros altos, por desaquecerem a demanda agregada, diminuem o nível de emprego na economia. Já nos dois mandatos do Lula, a taxa de câmbio que havia chegado U$$ 1=R$ 3,99 poucos meses da eleição que deu a vitória ao próprio Lula, voltou à casa de U$$ 1=R$ 1,55 até antes da eclosão da atual crise, em meados de 2008. Isso mostra que a âncora cambial foi muito importante para controlar os preços na era Lula. Enfim, controlar a inflação é fundamental, mas deve-se ter em mente que tão importante quanto é possibilitar o crescimento do emprego. Esse é um dilema que a teoria econômica carrega há muito tempo.
Fonte: Fernando Antônio Agra é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)
e professor universitário das faculdades:
Vianna Júnior, Estácio de Sá e Universo e
do curso de Formação Gerencial do Instituto Educacional Machado Sobrinho,
sendo todas as instituições em Juiz de Fora - MG
Hasta la vista, Baby!!!

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